Uma parte do que eu sou, e outra parte do que fui. Nada que não possa ser entendido com poucas palavras.
quarta-feira, 8 de julho de 2015
Transformação e companhia que desejo. Contos de lobo PT 10
Após longos anos, ele sentou na sacada de sua janela. Observou as estrelas brilharem por um leve instante e ali mesmo sentindo o vento passar por seu corpo. Tornando-o gélido por causa da brisa fria que tocava sua pele nua. Aquela sensação que inquietava seu peito em que outrora viera em seu encalço, trazia lembranças. Sua pele arrepiara, pois, um pensamento veio-lhe em mente. Seus cabelos esvoaçavam junto ao vento e aquela pontada veio de perto. Um canto onde já não existia sensação p/ ser revelada, mas o peito deu aquela batida e revigorada.
Ele fechou os olhos com força apertando sua cabeça, se encolhendo ao relento esperando que aquilo fosse apenas um devaneio que ei de passar, mas a pontada se renova e torna a vir de forma mais abrupta possível, com ela as lembranças o atormenta em coisas desanexas, sem complementos. Apenas flashes passando em sua mente conturbada. Ele aperta seus braços sentindo o calor percorrer e trespassar seu corpo. Aquela sensação de mudança está por vir e ele sabe disso, mesmo querendo fugir ou fingir que a faze de transformação está para acontecer.
Ele cerra os dentes com força ao ponto de fazer a gengiva sangrar enquanto morde os lábios. A pontada em sua mente vem com maior veracidade rompendo-lhe a sanidade e confundido mais ainda seus instintos. Aqueles primitivos dos quais não revelaria nem a seu próprio ser, mas dessa vez algo quer sair e não está mantendo controle suficiente para acalmar a fera que em si reside.
Com as mãos elevadas em seu peito, começa a lhe rasgar o peito e urrar de dor e agonia. Como se quisesse tirar algo preso em sua própria pele, mas não havia nada lhe prendendo e de verdade... Era a sua própria pele que lhe incomodava. Suas mãos deformadas entraram em seu peito e um grito de dor soou pelos ares. Aquele clamado de ajuda, enquanto em sua face a pele soltava e seus dentes trocavam de lugar com presas pontiagudas e firmes. Seus globos oculares saltaram sobre sua pele, dando lugar p dois novos olhos de cor amarelada. O sangue escorria em cada parte de carne descolada em seu corpo. Onde o sangue escorre, uma pelagem marrom escura cresce no local, e a transformação continua.
Suas pernas se contorcem e a ponta dos pés se estica, arrancando unha por unha e dando abertura para garras firmes e fortes. Seu calcanhar já não alcança mais o chão e ele continua a se abraçar de forma bruta enquanto sua cabeça (focinho) sai rasgando a parte de pele entre os olhos e nariz. Dentes pontudos rasgam aquela parte sensível de sua face que tanto adorava observar.
Sentir cada costela de seu corpo esticar, seus ombros alargarem enquanto seus músculos lutam e relutam para assumir sua verdadeira forma. Aquela forma que se prendera em décadas atrás, hoje volta e reluta pelo seu controle.
Agora ver-se criatura. Curvada sobre o parapeito da janela. Toda sua carne quente ainda estagnada sobre o chão, quente, sangue pingando para todos os lados. O gosto do próprio sangue descendo em sua garganta. Ele observa a mesma rua com os olhos da besta que mora dentro de si. Observa o mesmo vento que lhe tocava a face na outra forma, sente cheiros que já deveriam ter se apagados do local. Sente a dor no peito que a outra forma lhe deixou p/ sentir e não contente com isso. Estica o braço o mais longe que pode. Abre a mão em formato de ponta de flecha e sem pensar duas vezes.... Atravessa seu próprio peito até chegar em seu coração. Ele o toca com cuidado. Sente o pulsar, o movimento que o (nos) faz estar vivo (s). Sente o calor, o sangue escorrer, a lagrima escorre da sua face triste e puxa novamente a mão deixando aquele coração no seu devido lugar.
Abaixa e come o seu “antigo eu” ali no chão p/ que sua cicatrização seja mais rápida. Degusta pedaço por pedaço de si. Não para saciar sua fome, mas p fechar logo o buraco que ele mesmo o fizera com suas próprias mãos, mas não conseguira terminar com o motivo de sua dor.
Ele sobe duas janelas a cima da sua e vai p o telhado do seu prédio. Arrepende-se dessa visão. Preso em cidade de pedras onde não se pode ver o lugar que lhe traz paz ou aqueles braços que o envolvia em momentos antes da dor crescente dentro do peito querendo sair. Aqueles braços sabiam como manter a fera sobre controle, porem aqueles braços não existem mais.
Ele observa o que sobrou da imagem da lua no céu e solta um uivo longo de dor. Pois sabe que está preso dentro de um corpo já é ruim, mas cercado em um lugar onde a liberdade lhe é privada em seu canto de paz e tranquilidade. Aquele canto que encanta não está acessível a esta criatura que perambula nos sonhos do pobre rapaz. Ele se agacha balançando sua longa calda de um lado p/ o outro e sente a necessidade de voltar ao ser que era. E ali mesmo retorna aos poucos ao ser que outrora deveria ser. Aos poucos os pelos começam a cair. As presas deixam seu enorme focinho em retorno a pele do rosto juvenil em que outras vezes utilizara como mascaras do seu próprio ser. Aquele ser que se sentia tão só ao redor do mundo, mas as coisas mudaram dentro dele por algum motivo. Ao tocar aquele coração frio e assustado onde não queria deixar ninguém entrar, deu espaço p/ uma nova companheira. Pela qual ele suplicava reencontrar no próximo dia.
As costelas voltando a se fixar nos pontos. A dor é maior do que a primeira sentida na transformação. O sofrimento e o vento frio passando por todo seu corpo enquanto aqueles pelos todos caem e no chão cheio de pelos, garras e presas para todos os lados. Os olhos caem das orbitas tornando tudo negro e dando espaço p/ aqueles olhos castanhos claros que mantem o disfarce como sempre fora. Os cabelos longos reaparecem, a barba falha e a boca se conclui.
Ele se encontra nu 2 andares a cima do seu, pensando em como ira voltar p/ janela de seu quarto. Ele se pergunta, mas de longe, um perfume vem junto ao vento. Um perfume familiar. Uma lembrança vem em sua mente conturbada, uma imagem de uma pessoa que se torna queria a cada dia que se passa. Uma companhia ideal, uma parceira, amiga e que mexe com sua mente. O formato dos olhos, os traços de sua boca, seus cabelos ruivos e sua fúria de leoa o acalmam. Ele para um tempo, respira e começa a descida em meio as grades até sua janela. Ainda nu ele consegue chegar a base de onde saiu pela primeira vez. Essa transformação o cansou, mas no final das contas ele entendeu.
A única coisa que ele precisava sentir no momento, era um cheiro p/ que ativasse a lembrança certa, mas da janela do seu quarto era impossível. Aquele olhar, aquele cheiro só chegaria de mais alto e ali em cima ele conseguiu o que tanto almejava. O descanso de sua mente e o aguardo em ver sua companhia uma vez mais... E mais e mais....
Ele sente falta da amizade dela e espera que tudo esteja bem. Volta p/ o seu quarto, deita em sua cama e ali descansa. Dorme e apaga. E por um breve momento o lobo caminhava ao seu lado em um caminho longo e claro para que no final do caminho.... Conseguisse observar aquele cabelo cor de fogo bem de longe. E em meio a um sorriso, o lobo sai em sua direção e deixa lhe afagar suas costas. Um sorriso se abre neste meio tempo. E o andarilho segue seu rumo em direção a sua companhia tão agradável e assim termina mais uma parte de sua jornada.
W.W
09/07/2015 00:00
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